Querer sentir-se seguro no dia a dia é um desejo normal, para que isto aconteça é preciso ter certos cuidados como seguir regras e evitar situações que possam nos ameaçar. Quando estes cuidados são repetidos excessivamente podemos estar diante de um transtorno comum: o TOC.
1- O que é o TOC?
O TOC é um transtorno mental incluído entre os chamados transtornos de ansiedade.
2- Quais são os seus sintomas?
Seu sintoma principal é a presença de obsessões que são acompanhados de ansiedade ou desconforto, e das compulsões ou rituais realizados para reduzir a aflição que acompanha as obsessões.
3- O que são obsessões?
Obsessões são pensamentos ou impulsos sentidos como estranhos ou impróprios, que invadem a mente de forma repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases, números, músicas, etc.
4- Quais as obsessões mais comuns?
• Preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação
• Dúvidas quanto a fechar o carro, o gás, etc
• Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento
• Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir outras pessoas
• Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios, relacionados a sexo (comportamento sexual violento, abusar sexualmente de crianças, falar obscenidades, etc.)
• Preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar
• Preocupações com doenças ou com o corpo
• Religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias)
• Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais, cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças)
• Palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e indesejáveis
5- As obsessões interferem no estado emocional das pessoas?
Sim, obsessões são pensamentos, e já sabemos que os pensamentos determinam nossas emoções; geralmente as pessoas sentem ansiedade, medo, aflição, angústia, culpa ou desprazer.
6- O que as pessoas com TOC fazem para lidar com essas emoções?
Elas tentam neutralizar esse desconforto realizando rituais ou compulsões, ou através de evitações (não tocar, evitar certos lugares).
7- O que são compulsões ou rituais?
São comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em resposta a obsessões, ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente.
8- Quais as compulsões mais comuns?
• De lavagem ou limpeza
• Verificações ou controle
• Repetições ou confirmações
• Contagens
• Ordem, simetria, seqüência ou alinhamento.
• Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar ou economizar.
• Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números.
• Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos.
9- Existem compulsões mentais que a pessoa faz e ninguém percebe?
Sim, elas são realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores, observáveis. Elas têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento. Alguns exemplos:
• Repetir palavras especiais ou frases
• Rezar
• Relembrar cenas ou imagens
• Contar ou repetir números
• Fazer listas
• Marcar datas
• Tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos contrários.
10- Existe mais algum tipo de compulsão?
Não são bem compulsões de fazer, mas de não fazer; são chamadas de evitações.
11- Quais são estas evitações?
• Não tocar em trincos de portas, corrimãos de escadas ou de ônibus; não tocar nas portas, nas tampas de vasos, descargas ou torneiras de banheiros (ou usar um lenço ou papel para tocá-los);
• Isolar compartimentos e impedir o acesso dos familiares quando estes chegam da rua; obrigá-los a tirar os sapatos, trocar de roupas, lavar as mãos ou tomar um banho quando chegam da rua;
• Restringir o contato com sofás (cobri-los com lençóis, não sentar com a roupa da rua ou com o pijama);
• Não sentar em bancos de praça ou de coletivos;
• Não encostar roupas usadas “contaminadas”, nas roupas “limpas” dentro do guarda-roupa;
• Evitar sentar em salas de espera de clínicas ou hospitais (principalmente em lugares especializados em câncer ou AIDS);
• Não usar talheres de restaurantes ou de outras pessoas da família;
• Não usar telefones públicos;
• Não cumprimentar determinadas pessoas (mendigos, aidéticos, pessoas com câncer, etc.);
• Não utilizar banheiros que não sejam os da própria casa;
• Evitar pisar no tapete ou piso do banheiro em casa ou no escritório;
12- As compulsões e os rituais curam a pessoa que tem o TOC?
Não. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade associada às obsessões, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão.
Por outro lado, em vez de enfrentar as obsessões que geram seus medos seus medos a pessoa faz com que eles se perpetuem, tornando-se ao mesmo tempo prisioneiro das suas compulsões e dos seus rituais.
13- As compulsões tem uma conexão com a realidade?
Assim como as obsessões podem ser ilógicas também as compulsões podem não ter uma conexão com a realidade que desejam prevenir:
Por exemplo: alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça.
Isto acontece nesses casos,porque por trás desses rituais existe um pensamento ou obsessão de conteúdo mágico, muito semelhante ao que ocorre nas superstições.
14- O TOC torna a vida das pessoas mais dificeis?
Sim, por exemplo, é comum, em portadores do TOC, a lentidão ao executar tarefas.
Essa lentidão pode ocorrer em razão de dúvidas, repetições para “fazer a coisa certa ou exata...” (tirar e colocar a roupa várias vezes, sentar e levantar, sair e entrar, etc.), verificações repetidas (trabalho, listas, documentos), banho demorado, tempo demasiado para se arrumar (perfeccionismo), ou do adiamento de tarefas devido à indecisão (necessidade de ter certeza).
15- Há conseqüências na convivência familiar?
Sim, as pessoas com TOC podem fazer exigências que vão causar conflitos constantes comprometendo a harmonia conjugal e familiar. Vamos pensar nas pessoas que tem preocupações excessivas com sujeira, doenças e contaminação:
Uma paciente obrigava seus familiares a trocarem a roupa ou os sapatos para entrar em casa;
Outra obrigava o marido a tomar um banho imediatamente antes das relações sexuais;
Uma terceira obrigava o marido a lavar a boca antes de lhe dar um beijo ao chegar da rua e
Outra exigia que seu filho de dois anos usasse luvas para abrir a porta
16- Quais as causas do TOC?
Até o presente momento, ainda não foram esclarecidas as verdadeiras causas do TOC. Evidências apontam diversos fatores de ordem biológica (envolvendo especialmente o funcionamento cerebral) e de ordem psicológica que contribuem para o aparecimento e para a manutenção dos sintomas.
17- O TOC é considerado uma doença grave?
Sim, o TOC é considerado uma doença mental grave por vários motivos: está entre as dez maiores causas de incapacitação, de acordo com a organização Mundial de Saúde; acomete preferentemente indivíduos jovens ao final da adolescência – e muitas vezes começa ainda na infância -, sendo raro seu início depois dos 40 anos; geralmente é crônica e se não tratada, na maioria das vezes seus sintomas se mantêm por toda a vida.
18- O TOC é uma doença rara?
Não, o TOC é uma doença bastante comum, acometendo aproximadamente um em cada 40 ou 50 indivíduos.
No Brasil, é provável que existam entre 3 e 4 milhões de portadores. Muitas dessas pessoas, embora tenham suas vidas gravemente comprometidas pelos sintomas, nunca foram diagnosticadas e tampouco tratadas.
Talvez a maioria desconheça o fato de esses sintomas constituírem uma doença para a qual já existem tratamentos bastante eficazes.
19- Quais os tratamentos indicados para o TOC?
Os tratamentos mais efetivos para o TOC incluem alguns medicamentos e também a terapia cognitivo-comportamental.
A hipótese de que as aprendizagens errôneas desempenham importante papel no TOC consiste na base do chamado modelo cognitivo-comportamental reduzir seus efeitos constitui forte evidência a favor dessa hipótese ou modelo.
Esta reduz ou elimina os sintomas em mais de 70% dos pacientes. A terapia ainda é um método pouco conhecido e pouco utilizado em nosso meio.
Arnaldo Vicente